
ONU diz que conflito em Gaza passa por sua 'fase mais cruel'

O chefe da ONU anunciou, nesta sexta-feira (23), que os palestinos vivem "a fase mais cruel" da guerra na Faixa de Gaza, onde mais de dez caminhões com alimentos foram saqueados depois que Israel permitiu a entrada parcial de ajuda.
A assistência chega a conta-gotas no território desde que Israel anunciou, nesta semana, que permitiria a entrada limitada de caminhões após mais de dois meses de bloqueio total, em meio à intensificação de sua ofensiva para destruir o movimento islamista palestino Hamas.
A Defesa Civil de Gaza reportou pelo menos 16 mortos nesta sexta em "bombardeios israelenses em diferentes zonas da Faixa de Gaza", além de dezenas de feridos.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que os moradores do território palestino "estão sofrendo" provavelmente a "fase mais cruel" do conflito, e acrescentou que Israel "deve aceitar, permitir e facilitar" as entregas humanitárias.
Os "quase 400 caminhões" autorizados a entrar em Gaza nos últimos dias, dos quais "só foi possível recolher a carga de 115", representam "apenas um pingo quando se necessita de um dilúvio", declarou em um comunicado.
"Ao mesmo tempo, a ofensiva militar israelense se intensifica, com níveis alarmantes de morte e destruição", denunciou Guterres.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) sinalizou que 15 caminhões foram "saqueados na noite de quinta-feira no sul de Gaza, quando se dirigiam a padarias" apoiadas por este organismo da ONU.
"A fome, o desespero e a angústia de não saber se chegará mais ajuda alimentar estão fazendo aumentar a crescente insegurança", declarou o PMA, que pediu às autoridades israelenses que "permitam a entrada de volumes muito maiores de ajuda alimentar, e mais rapidamente".
A entrada de ajuda em Gaza foi retomada na segunda-feira pela primeira vez desde 2 de março, em um contexto de crescente condenação internacional ao bloqueio israelense, que provocou grave escassez de alimentos e remédios.
- "Ninguém deveria se surpreender" -
Israel afirmou que 107 caminhões carregados com ajuda humanitária entraram no território palestino na quinta-feira.
No entanto, Philippe Lazzarini, diretor da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (Unrwa), lembrou, nesta sexta, que durante a trégua de seis semanas - interrompida em março - entre 500 e 600 caminhões entraram diariamente.
"Ninguém deveria se surpreender ou se chocar ao ver cenas em que a valiosa ajuda é saqueada, roubada ou 'perdida'", escreveu ele no X, acrescentando que "a população de Gaza está passando fome há mais de onze semanas".
O Exército israelense declarou que, durante o último dia, suas forças atacaram "complexos militares, depósitos de armas e postos de franco-atiradores" no território.
"Além disso, [a Força Aérea] atingiu mais de 75 alvos terroristas em toda a Faixa de Gaza", acrescentou.
Segundo militares israelenses, sirenes antiaéreas foram ativadas em comunidades perto de Gaza na tarde desta sexta. Posteriormente, informaram que "um projétil que cruzou o território israelense partindo da Faixa de Gaza foi interceptado" pela Força Aérea.
No norte do território palestino, o hospital Al Awda informou que três de seus funcionários ficaram feridos "depois que drones quadricópteros israelenses lançaram bombas" na unidade médica.
Um jornalista da AFP viu grandes colunas de fumaça saindo de prédios destruídos no sul de Gaza após bombardeios israelenses.
Israel retomou as operações em Gaza em 18 de março, encerrando um cessar-fogo iniciado em 19 de janeiro.
O Ministério da Saúde do governo do Hamas informou, nesta sexta-feira, que pelo menos 3.673 pessoas morreram em Gaza desde então, elevando o número total de mortos no território em decorrência da guerra para 53.822, a maioria civis.
O conflito eclodiu em 7 de outubro de 2023 com o ataque do Hamas ao sul de Israel, que deixou 1.218 mortos, majoritariamente civis, de acordo com um balanço baseado em dados oficiais.
Os islamistas também sequestraram 251 pessoas naquele dia. Destas, 57 permanecem em cativeiro em Gaza, embora 34 tenham sido declaradas mortas pelo Exército israelense.
N.David--PS