
Sem citar Trump, Brics expressa preocupação com tarifas

O Brics expressou neste domingo, em reunião de cúpula no Rio de Janeiro, sua preocupação com o aumento de tarifas "unilaterais", e pediu um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza.
Durante o encontro de dois dias, que não conta com a presença dos presidentes de China e Rússia, o anfitrião, Luiz Inácio Lula da Silva, ressaltou que o multilateralismo está "sob ataque", no momento em que o presidente americano, Donald Trump, prepara novas tarifas para vários países.
Formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o grupo foi ampliado para 11 países e representa quase metade da população e cerca de 40% do PIB mundial.
"Expressamos uma séria preocupação com o aumento de medidas tarifárias e não tarifárias unilaterais que distorcem o comércio", destaca a declaração dos líderes aprovada na reunião.
O bloco busca se mostrar unido contra o protecionismo de Trump, dias após o presidente americano advertir que enviará cartas aos aliados comerciais dos Estados Unidos para informar sobre a implementação de suas já anunciadas tarifas. O secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, afirmou hoje que, caso nenhum acordo seja fechado com Washington nos próximos dias, as tarifas entrarão em vigor em 1º de agosto.
A declaração do Brics não menciona diretamente Trump, no momento em que vários países, como a China, negociam diretamente com os Estados Unidos suas disputas tarifárias.
- Irã -
Sobre o conflito no Oriente Médio, o texto pede "um cessar-fogo imediato, permanente e incondicional" e uma "retirada completa das forças israelenses da Faixa de Gaza", e apela por uma solução de dois Estados.
No entanto, o Irã, membro do grupo desde 2023, "expressou suas reservas" à presidência brasileira do Brics sobre esse ponto, em uma "explicação da sua posição histórica" que nega a existência de Israel, disse uma fonte diplomática iraniana à AFP.
O Catar sedia uma nova rodada de negociações indiretas entre Israel e o grupo islamita Hamas para tentar alcançar um acordo de trégua e a libertação dos reféns no território palestino. Trump disse hoje que existem "boas chances" de um acordo ser fechado nesta semana com o Hamas sobre os reféns israelenses.
Lula, por sua vez, voltou a criticar a campanha israelense no território palestino. "Absolutamente nada justifica as ações terroristas perpetradas pelo Hamas, mas não podemos permanecer indiferentes ao genocídio praticado por Israel em Gaza", ressaltou.
O presidente do Irã, Masud Pezeshkian, não participou da reunião de cúpula, e a delegação saudita esteve ausente das plenárias de hoje e deve participar do evento amanhã, segundo uma fonte do governo brasileiro.
- IA -
O grupo emitiu uma declaração específica sobre a inteligência artificial (IA), na qual apoia "firmemente o direito de todos os países de usufruir" dos seus benefícios e "estabelecer suas próprias estruturas regulatórias" para essa tecnologia.
O texto também pede a proteção dos "direitos autorais contra a utilização de IA não autorizada, a fim de evitar a extração abusiva de dados e a violação da privacidade".
Lula ressaltou que "o desenvolvimento da IA não pode se tornar um privilégio de poucos países ou instrumento de manipulação na mão de milionários".
O Brics divulgará amanhã declarações sobre mudanças climáticas e cooperação na área de saúde.
F.Colin--PS