
Trump mantém pressão rumo à cúpula da Otan, que ratificará sua demanda de gastos

Cercada de conflitos, a Otan se prepara para oficializar o drástico aumento de gastos com a Defesa, exigido pelo presidente americano, Donald Trump, com a dúvida sobre a adequação em definitivo da Espanha, que se considera isenta de investir 5% de seu PIB na Aliança.
Após anunciar um cessar-fogo entre Israel e Irã, o republicano está a caminho de Haia, onde participará, na noite desta terça-feira (24), de um banquete oferecido pelo rei holandês Willem-Alexander aos 32 líderes da organização.
Trump aproveitou as curtas declarações que deu à imprensa a bordo do Air Force One para pressionar seus parceiros europeus em seu ponto mais sensível: o artigo 5 do Tratado de Washington, que obriga toda a Aliança a defender um país-membro em caso de ataque.
"Depende de sua definição. Há muitas formas de definir o artigo 5", disse o presidente, em resposta a uma pergunta sobre seu compromisso com a defesa mútua.
É que Donald Trump, cujo país aportou no ano passado 62% do total de gastos de Defesa da Otan, exige que os membros europeus e o Canadá aumentem seu investimento no setor para 5% do PIB nacional.
Caso contrário, ameaça não dar assistência em caso de agressão aos "maus pagadores", além de reduzir sua presença militar em um continente sacudido pela invasão russa da Ucrânia.
A caminho dos Países Baixos, o presidente americano publicou em sua plataforma, Truth Social, uma mensagem elogiosa do organizador da cúpula, o secretário-geral da Otan, Mark Rutte.
"Parabéns e obrigado por sua ação decisiva no Irã, que foi realmente extraordinária (...) Agora você está voando rumo a outro grande êxito em Haia esta noite. Não foi fácil, mas conseguimos que todos consentissem com os 5%!", escreveu Rutte a Trump, em uma mensagem cuja autenticidade foi confirmada para a AFP.
"A Europa pagará ALTO, como deve fazer, e esta vitória será sua", acrescentou Rutte na mensagem a Trump.
"Não estamos fazendo isso, como alguns sugerem, para agradar os Estados Unidos e seu presidente", relativizou, usando um tom diferente, o chefe do governo alemão, Friedrich Merz, em Berlim.
"A Rússia, mais que nenhum outro país, ameaça ativa e agressivamente a segurança" da Europa, destacou.
O aumento que se avizinha é extraordinário, pois em 2024, segundo dados da Aliança, o gasto médio com a Defesa entre os membros europeus e o Canadá foi de 2%, a meta dominante até agora. Washington investiu 3,2%.
Para abrir a via para este processo que depende de consensos, orçamentos e aprovações legislativas, a meta de 5% para 2035 se constitui de duas partes.
A primeira de 3,5% para gastos militares em sentido estrito, à qual se soma 1,5% em investimentos em áreas como cibersegurança, infraestruturas e proteção de fronteiras, úteis tanto para fins civis quanto militares.
- Um respiro para Zelensky -
A situação da Ucrânia é a outra chave desta cúpula, para além do "convidado" de última hora, o conflito entre Israel e Irã.
Trump e Zelensky devem, a princípio, reunir-se na tarde de quarta-feira em Haia, o que dará destaque ao líder ucraniano, que os organizadores não incluíram na sessão plenária de quarta para evitar um embate com o americano, como o que ocorreu em fevereiro na Casa Branca.
À espera da aterrissagem do Air Force One no aeroporto de Schipol, os líderes europeus e o próprio Rutte deram espaço a Zelensky em um evento paralelo sobre a indústria da Defesa.
"Continuaremos dando pleno apoio à Ucrânia e pressionando a Rússia. O 18º pacote de sanções está a caminho", disse o presidente do Conselho Europeu, António Costa.
"A Europa da Defesa enfim acordou", comemorou a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, fazendo um balanço da recente criação de dois mecanismos que devem mobilizar 800 bilhões de euros (cerca ade R$ 5 trilhões, na cotação atual) nos próximos anos em investimentos e créditos destinados ao setor.
"Acreditamos que 5% é o nível correto", afirmou Zelensky.
"Aqui você está entre amigos", disse-lhe von der Leyen.
- Espanha propõe 2,1%, "nem mais, nem menos" -
Gentilezas à parte, uma das grandes dúvidas para a quarta-feira é a adequação em definitivo que se dará à posição da Espanha, o país com o menor investimento proporcional no ano passado - 1,24% de seu PIB.
O chefe do Executivo espanhol, Pedro Sánchez, cujos aliados de governo são contrários a um maior gasto com a Defesa, afirmou no domingo que seu país gastará 2,1% - "nem mais, nem menos" -, e que o aumento para 5% parece "desproporcional" para a Espanha e suscetível de colocar em risco seu modelo social.
Nesta segunda, ele publicou uma carta de Rutte, na qual o holandês assegurou que a cúpula reconhecerá à Espanha uma "flexibilidade" sobre seus gastos.
Perguntado a respeito, Rutte disse à imprensa que o acordo prévio à cúpula não contempla cláusulas de exceção entre seus 32 Estados-membros.
Mas fontes do governo espanhol insistem em que Madri vai ratificar a posição comum, desde que se respeite esta flexibilidade, que na prática a exime de alcançar a meta para 5%.
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N.David--PS