
Kirsty Coventry abre novo capítulo do COI

Primeira mulher e primeira africana na presidência do Comitê Olímpico Internacional (COI), a zimbabuana Kirsty Coventry substituiu nesta segunda-feira (23) o alemão Thomas Bach no cargo de maior prestígio e responsabilidade política no esporte mundial.
A cerimônia de transição aconteceu em Lausanne (Suíça) com uma imagem simbólica: Bach cedendo o poder à candidata que apoiou nos bastidores e que foi eleita há três meses na Grécia.
Aos 41 anos, Coventry será a décima pessoa à frente do COI e inicia um mandato de oito anos, que pode ser prorrogado por mais quatro anos, e deve começar a trabalhar efetivamente na terça ou na quarta-feira consultando os mais de 100 membros da entidade para estabelecer "uma nova rota".
"Quando eu era uma menina de nova anos, nunca imaginava que estaria aqui, diante de vocês, com a possibilidade de retribuir ao nosso incrível movimento", declarou em março a dona de sete medalhas olímpicas na natação, depois de ter superado seus seis adversários nas eleições à presidência do COI.
- Mensagem forte do COI -
"Em paz" em sua despedida, Bach afirmou que o COI enviou "uma mensagem forte ao mundo" ao eleger uma ex-ministra do Zimbábue.
Integrante da comissão de atletas em 2013, a eleição de Coventry é o símbolo da mudança do COI, frequentemente encarado como um clube seleto de aristocratas e dirigentes ocidentais, que durante o mandato de Thomas Bach deu um salto em termos de internacionalização e participação feminina.
"Ela reflete a verdadeira natureza mundial do nosso movimento e seu foco voltado para a juventude", resumiu o alemão durante a cerimônia de transição.
"Temos uma atleta à frente da organização. É algo bom, avaliou o britânico Sebastian Coe, um dos adversários de Coventry nas eleições, e também ex-campeão olímpico, no atletismo.
- Teste de feminilidade -
O mandato de Coventry pode trazer "uma grande reforma" no apoio econômico aos atletas, "não só os olímpicos, mas também os querem vir a ser", opina Jean-Loup Chappelet, especialista em olimpismo da Universidade de Lausanne.
Depois de 12 anos de mandato, Bach, campeão olímpico de esgrima, deixa como legado uma organização próspera, que já tem definidas as sedes dos Jogos Olímpicos até 2034 (de verão e de inverno), e que fechou até 2036 seu acordo para transmissão com a emissora americana NBC Universal.
Kirsty Coventry deverá, no entanto, impor sua marca rapidamente, depois de ter feito uma campanha discreta, durante a qual limitou as viagens e deu à luz sua segunda filha, sem apresentar propostas concretas.
Sua posição ficará especialmente exposta em relação aos testes cromossômicos de gênero para acesso às competições femininas.
- Aproximação com Trump -
Coventry prometeu em março "proteger as atletas femininas", mas sem dar pistas sobre se admitiria ou excluiria atletas transgênero ou intersexo: seu desejo era a criação de "um grupo de trabalho" para chegar a uma "decisão comum". Mas várias modalidades pressionam para obter uma resposta conclusiva.
A menos de um ano dos Jogos Olímpicos de inverno de 2026, em Milão-Cortina, também será necessário que a nova presidente decida o futuro dos atletas russos e bielorrussos: a não ser que haja uma paz duradoura na Ucrânia, o mais provável seria uma participação limitada nas provas individuais, sob bandeira neutra e rígidas condições, tal como aconteceu nos Jogos de Paris-2024.
No campo da diplomacia, Kirsty Coventry também terá que alimentar a relação com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anfitrião dos Jogos Olímpicos de 2028, em Los Angeles.
"Desde os 20 anos, tive que enfrentar, digamos, homens difíceis ocupando cargos importantes", brincou a ex-nadadora em março. "O que aprendi é que a comunicação será a chave, e é algo que deve acontecer o quanto antes".
Além de abordar suas medidas sobre o modelo econômico do COI e seu impacto climático, questões cruciais para o movimento olímpico, a entidade também terá que atribuir a sede dos Jogos Olímpicos de Verão de 2036, com partes interessadas que vão da Índia à África do Sul, Turquia, Hungria, Catar e Arábia Saudita.
H.Leroy--PS